quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Neko No Myojutsu
Bujutsu Juhappan (18 tecnicas marciais)
• Ninpo Taijutsu (O corpo como arma)
• Bikenjutsu (Espadas)
• Bojutsu (Bastão)
• Shurikenjutsu (Projéteis)
• Sojutsu (Lanças)
• Naginatajutsu (Alabarda)
• Kusarigamajutsu (Foice e corrente)
• Bajutsu (Montar a cavalo)
• Suiren jutsu (Técnicas na água)
• Kayakujutsu (Uso do fogo)
• Boryakujutsu – Kyojitsu Tenkan Ho (Estratégia – Troca entre a verdade e a falsidade)
• Cho-ho (Espionagem)
• Shinobi-iri (Técnicas de Infiltração)
• Intonjutsu (Ocultação)
• Henso jutsu (Disfarces)
• Ten mon (Astronomia, astrologia)
• Chi mon (Geografia)
• Seishin Teki Kyoyo (Refinamento espiritual)
Todo esse treinamento concedia ao praticante do Ninpo um conhecimento técnico extenso, cobrindo uma ampla diversidade de habilidades. No entanto, todo esse treinamento era um meio e não um fim em si mesmo. Além da habilidade técnica, esse treinamento buscava levar o praticante a um estado específico de consciência, esse estado recebe o nome de Mushin (não mente), que recentemente ganhou a atenção das platéis do filme O Último Samurai. Era apenas então, que a real aplicabilidade dessas habilidades se apresentava. Gostaria de apresentar agora um pergaminho antigo que nos fala sobre Mushin. Esse texto aparece em uma coleção de textos intitulada Inaka Soshi (O Taoista Camponês), escrita em 1727 pelo estudioso Issai Chozan (Tanba Jurozaemon Tadaaki, 1659-1741). O título desse texto é: Neko No Myojutsu (As Maravilhosas Técnicas do Gato Velho).
NEKO NO MYOJUTSU
"Certa vez houve um espadachim pelo nome de Shoken. Sua casa estava afrontada por um rato enorme que por ela andava livremente, até mesmo durante o dia. O gato caseiro de Shoken não era páreo para o rato e fugiu aterrorizado após ter sido mordido severamente. Shoken adquiriu vários gatos durões para combater o rato em grupo. Eles foram soltos na casa, e foram atrás do rato, que se agachou no canto de um quarto esperando por eles. O rato atacou ferozmente a um gato após o outro e espantou a todos. Enfurecido pelo fracasso dos gatos, o mestre decidiu dar fim no rato com sua espada. Mesmo com sua habilidade como espadachim, ele não conseguia acertar o rato. O animal saltava grandes distâncias pelo ar, movia-se como um relâmpago, o descaradamente saltava sobre a cabeça do espadachim. Shoken desistiu em exasperação e decidiu buscar o auxílio do Incrível Gato Velho de um vilarejo próximo.
Quando o dono trouxe o Gato Velho até a casa de Shoken, Shoken ficou surpreso do quão comum e envelhecido aparentava o gato. Entretanto, ele disse: vamos tentar. Então, soltou o gato no quarto onde o rato estava encurralado. Assim que ele viu o gato se aproximar, o rato ficou imóvel. O gato desinteressadamente andou até o rato, pegou-o pelo pescoço, carregou-o para fora do quarto, e o entregou a Shoken.
Naquela noite, os outros gatos se reuniram e deram o assento de honra ao Gato Velho. Disseram a ele: Somos bem conhecidos por nossa habilidade de pegar ratos, capazes de lidar inclusive com outros roedores, e nossas unhas são afiadas como navalhas. Entretanto, não havia nada que podíamos fazer contra aquele rato. Como que você foi capaz de sobrepujar aquele enorme rato? Por favor, transmita-nos os segredos de sua arte.
O Gato Velho deu uma gargalhada e disse: Bem, vocês ainda são jovens e por mais que tenham experiência em lutar com ratos vocês ainda tem muito que aprender. Antes que eu comece, me fale sobre o treinamento de vocês.
Um gato preto se apresentou e disse: Fui criado numa família especializada em treinar gatos. Fui ensinado como saltar sobre uma tela de dois metros de altura, como me espremer em pequenos buracos, e em todo tipo de truque acrobático. Eu era perito em fingir dormir e então atacar assim que o rato passasse por perto. Ratos não podiam me escapar. Podia pegá-los mesmo quando fugiam pelas vigas dos telhados. Nunca havia sido derrotado até conhecer aquele rato velho.
O Gato Velho disse: Seu treinamento centrou-se exclusivamente em técnica. Tudo que você pensa é em pegar o rato. Os mestres antigos ensinaram seqüências e movimentos para que pudéssemos desenvolver uma boa técnica. E até a técnica mais simples contém princípios profundos. Você se foca demais em técnica externa. Isso faz você duvidar da tradição dos mestres e criar novos truques. Entretanto, se você depender demais de técnica, mais cedo ou mais tarde chegará a um impasse, porque técnica física possui um limite. Pense bem sobre isso.
Então, o gato-tigre se apresentou e disse: Eu acho que o desenvolvimento de ki (força vital) é o mais importante. Eu tenho polido meu ki por muitos anos, e meu espírito é muito forte, abarcando o Céu e a Terra. Eu poderia encarar meus oponentes com um ki sobrepujante e derrotá-los desde o início. Eu poderia responder a qualquer estímulo imediatamente, qualquer movimento. Eu não precisaria pensar, as técnicas surgiriam naturalmente. Eu poderia congelar um rato correndo através de uma viga e fazê-lo cair ao chão. Entretanto, aquele rato velho veio sem forma alguma e não deixou nenhum traço. Fiquei incapacitado.
O gato velho respondeu, o poder de ki que você usa ainda é uma função de sua mente e, portanto, auto-centrado em demasia. Está fundamentado por inteiro em teu próprio nível de auto-confiança. Porquanto você permanecer consciente de teu poder de ki e usá-lo mentalmente para sobrepujar um oponente você criará resistência. Sendo assim, você estará fadado a enfrentar um oponente cujo poder de ki é ainda mais forte que o seu. Você pode pensar que seu ki abarca o universo que nem o kozen no ki (energia universal) aplicado pelo sábio chinês Mencius, mas esse não é o caso. No caso de Mencius, o ki é brilhante e vigoroso. O uso por ele do poder de ki é como um grande rio, já seu uso do poder de ki é como uma alagação repentina. Todos nós conhecemos o provérbio: um gato que morde é mordido pelo rato. Quando um rato está encurralado ele se esquece da vida, esquece desejos, esquece perder ou vencer, esquece corpo e mente. Essa força é como aço e não pode ser sobrepujada apenas com o poder de ki.
Um gato mais velho e cinzento se apresentou e disse: Como vocês disseram, aquele tipo de poder de ki pode ser muito forte, mas ele ainda retém uma forma, por mais sucinta que seja, que pode ser usada contra você. Já para mim eu venho polindo meu coração há muitos anos. Eu não dependo apenas do poder de ki, eu nunca alimento pensamentos de lutar contra o oponente, e sempre busco me harmonizar com qualquer ataque. Quando um oponente é forte, eu me harmonizo e sigo seus movimentos. Minha técnica é como uma cortina que, capturando e caindo ao chão, apanha uma pedra que foi jogada contra ela. Até então, até o rato mais forte não conseguia achar um local para me atacar. Entretanto, esse rato era incrível – poder de ki e poder de harmonização não tinha nenhum efeito sobre ele.
O gato velho respondeu: O seu poder de harmonização não é o poder de harmonização da natureza. Ele é uma projeção de tua mente e, portanto, é limitado. Qualquer traço de pensamento consciente destrói seu equilíbrio, e um oponente afiado se aproveitara dessa brecha de imediato. O pensamento obstrui a natureza e inibe função real. Não pense, não aja, siga os movimentos da natureza e o eu desaparecerá. Sem um eu não haverá alguém a se opor a ti no Céu e na Terra.
Não é meu intuito desfazer do treinamento árduo de vocês como sendo sem valor. O Caminho tem muitos vasos. Técnicas contêm princípios universais. Poder de ki faz o corpo funcionar e vivifica o universo. O poder de se harmonizar permite que o praticante se harmonize naturalmente com qualquer força que o ataque, até mesmo pedras, sem ser quebrado.
Entretanto, assim que se apresentar o menor pensamento consciente, acanhamento e desejos se apresentam, e isso lhe separa do Caminho natural. Você passa a ver a si mesmo e aos outros como entidades separadas, como oponentes. Se vocês me perguntassem que técnica que eu usei, a resposta é mushin (não-mente). Mushin é agir de acordo com a natureza, nada mais. O Caminho não possui limites, portanto não pensem nessa minha conversa como o segredo último.
Muito tempo atrás havia um gato em meu bairro que parecia faze nada, senão dormir o dia inteiro. O gato parecia não ter espírito, quase como um gato feito de madeira. Ninguém jamais o viu pegar um rato, entretanto, onde quer que ele estivesse ou onde quer que ele fosse, rato algum ousava aparecer. Certa vez visitei o gato e pedi que ele me explicasse à razão. Eu perguntei quatro vezes, mas ele permaneceu silencioso. Não é que ele não estivesse a fim de responder, é que ele não sabia como. Como diz o antigo ditado: aqueles que sabem não falam, aqueles que falam não sabem. O gato esqueceu-se de si, esqueceu objetos, e vivia em um estado despropositado. Aquele gato realizou a virtude divina marcial de não matar. Eu ainda não sou páreo para aquele gato.
Shoken que estava escutando essa conversa em forma de sonho não resistiu, e subitamente adentrou a sala: Eu venho treinando no Caminho da Espada por muitos anos, mas ainda não penetrei sua essência. Esta noite ouvi falar sobre muitas formas de treino e aprendi muito sobre meu Caminho da Espada. Por favor, ensine-me seus segredos mais profundos.
O gato velho respondeu: Isso eu não posso fazer. Sou apenas um gato que apanha ratos pra comer. O que sei eu sobre questões humanas? No entanto, eu tenho isso a dizer. O Caminho da Espada não diz respeito apenas a adquirir vitória sobre um oponente. Numa juntura muito crítica é a arte de iluminar a vida e a morte. O próprio Samurai precisa forjar essa atitude e disciplina por si mesmo nesse espírito. Primeiramente, penetrar o princípio de vida e morte, e manter esse espírito. Então, não haverá dúvidas, nenhum pensamento a distrair, nenhum cálculo, nenhuma deliberação. Teu espírito permanecerá calmo e pacífico, não obstruído, livremente respondendo a qualquer contingência. Do mesmo modo, se houver o menor objeto em sua mente, haverá um eu, haverá um inimigo, haverá oposição, haverá a perda da liberdade. Você, então, adentrará a escuridão da morte e perderá o brilho espiritual. Como você pode pretender enfrentar um oponente nesse estado? Mesmo se ganhar, será uma vitória superficial e não o verdadeiro Caminho da Espada. Ser despropositado não é um estado vazio. Ele é sem forma, não elaborando objetos. Se algo é elaborado nesse estado o poder de ki se junta ao seu redor. O poder de ki, então, é afetado e o movimento estagnado, desequilibrado e descontrolado. O que eu chamo de ‘despropositado’ não elabora coisa alguma, não possui inimigos, não possui um eu, responde naturalmente a tudo e não deixa nenhum rastro.
O I Ching afirma: Sem pensamento, sem fazer, naturalmente acomodado, o Caminho se ativa pelo universo. Espadachins que compreendem esse princípio estão próximos do Caminho.
Shoken perguntou: O que se quer dizer com – se não há um eu, não há inimigo? O gato velho respondeu: porque há um eu, há um inimigo. Se não há um eu, não há inimigo. Inimigo é aquilo que está oposto. O tipo de oposição aparente externamente em yin e yang, fogo e água. Todo objeto com forma possui seu oposto. Quando a mente não possui forma, não há o que possa se opor a ela. Quando não há oposição, não há nada para se lutar contra. Isso é chamado de sem inimigo, sem eu. Quando o eu e objetos são ambos esquecidos, há um estado natural de inatividade, um estado sem problemas, de união. A forma do inimigo desaparece e você não sabe nada. Isso não é o mesmo de ser desatento, significa que não há pensamentos calculistas e que as respostas são imediatas e naturais. Essa mente não é obstruída e é livre, permitindo que o mundo seja seu domínio. Abstrações tais como ‘isso’, ‘aquilo’, ‘gosto’ e ‘não gosto’ desaparecem. O prazer e a dor, a perda e o ganho são semelhantemente criações de sua mente. Todo o Céu e a Terra não há de ser buscado fora da própria mente.
Um saudoso ancião certa vez disse: Um único cisco de poeira no olho pode tornar os três mundos muito estreitos, libere sua mente e vida sem obstruções! Quando um cisco entra no olho ele mal consegue ficar aberto e é difícil enxergar qualquer coisa. Quando algo brilhante por natureza é contaminado por um objeto externo, ele perde sua claridade. O mesmo é verdadeiro para a mente.
Outro antigo disse: Cercado por vários oponentes, o teu corpo pode ser espedaçado em mil pedaços, mas tua mente é tua e jamais pode ser eliminada. Confúcio disse: até o ser humano mais perverso não pode ser privado de sua vontade. Quando você está iludido, tua própria mente se torna teu inimigo.
Eu gostaria de parar de falar aqui. Agora estar por conta de cada um. Um mestre pode transmitir técnicas e iluminar os princípios por de traz delas, nada mais. A verdade tem que ser apreendida individualmente. Isso é auto-realização. É chamado de ‘transmissão de mente para mente’ e ‘uma transmissão separada, fora dos textos’. Enquanto que o ensinamento não depende de tradição, ele utiliza tradição, mas mesmo assim um mestre não pode comunicar tudo. Isso não se limita ao estudo de Zen. Dos métodos antigos de treinamento espiritual dos sábios até as grandes obras de arte criadas por artistas, todos foram baseados em auto-realização e em transmissão instantânea de mente para mente – um ensinamento fora dos textos. Os textos ensinam o que você tem dentro de você e lhe auxiliam a alcançá-lo por si próprio, tornando-se assim seu. Um mestre, na realidade, não lhe dar nada. É fácil falar e fácil ouvir, difícil é perceber essas coisas e torná-las verdadeiramente suas. Isso é chamado de Kensho (vendo a própria natureza) e Satori (Iluminação). Satori é acordar do sonho da ilusão. É o mesmo que uma percepção aguçada."
English Translation
Bujutsu Juhappan (18 martial techniques)
• Ninpo Taijutsu (body art)
• Bikenjutsu (sword)
• Bojutsu (staf)
• Shurikenjutsu (projectiles)
• Sojutsu (spear)
• Naginatajutsu (halberd)
• Kusarigamajutsu (sickle and chain)
• Bajutsu (horsemanship)
• Suiren jutsu (water techniques)
• Kayakujutsu (Use of Fire)
• Boryakujutsu – Kyojitsu Tenkan Ho (Stategy - exchange between truth and falsehood)
• Cho-ho (Espionage)
• Shinobi-iri (Infiltration techniques)
• Intonjutsu (Hiding techniques)
• Henso jutsu (Disguises)
• Ten mon (Astronomy, astrology)
• Chi mon (Geography)
• Seishin Teki Kyoyo (Spiritual refinement)
All of this training granted the practitioner with an extensive technical knowlege, covering a wide range of abilities. Nevertheless, all this training was a means and not an end itself. Beyond tecnical ability, this training sought to lead the practitioner to an especific state of mind, this state is known as Mushin (no mind), that recently has won the attention of audiences in the movie The Last Samurai. It was only then that the real aplicability of these habilities would present itself. I would like to introduce now an ancient scroll that speaks to us of Mushin. This text apears in a colection of texts entitled Inaka Soshi, written in 1727 by the scholar Issai Chozan (Tanba Jurozaemon Tadaaki, 1659-1741). The title of the text is: Neko No Myojutsu (The Marvelous Techniques of the Old Cat).
In order to save space and time in translating I´m attaching a link to a slightly diferent English translation than the one posted above in Portuguese, however, the feeling is the same.
www.yamakawadojo.com/Neko%20no%20Myojutsu.pdf
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