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sábado, 16 de outubro de 2010

O Início da Jornada - The Begining of the Journey




“Quando não glorificamos os homens de valor evitamos a rivalidade entre as pessoas. Quando não valorizamos os artigos difíceis de obter estamos impedindo que sejam roubados. Eliminando o que possa provocar desejos os homens permanecem sem perturbações mentais.” – Lao Tsé


A prática ideal das artes marciais depende de três coisas fundamentais: a motivação certa, um professor justo e perseverança. Na ausência de um professor justo há de se seguir o caminho do treinamento solitário. Como diz o adágio popular: antes só do que mal acompanhado. A princípio, as artes marciais surgiram da necessidade do ser humano de sobreviver. Podemos dizer que o ser humano é por natureza um sobrevivente, sendo esta sua sina desde sua luta rumo à fecundação. Hoje, existem os esportes marciais onde a motivação não é a sobrevivência e sim a fama e o lucro. Podemos ver nisso um reflexo dos valores atuais das sociedades onde esses esportes marciais se proliferam. Em tempos antigos, ao constantemente dançar sobre a linha que separa a vida da morte, os guerreiros que deram origem a esses sistemas marciais chegaram a uma profunda compreensão da natureza humana. O desenvolvimento desse conhecimento deve, de fato, ser a principal motivação para um Budoca. Uma pergunta que justificaria esta afirmação seria: por que sobreviver, ou melhor, por que viver? Quem sabe podemos então guiar nosso olhar para além do aparente, e perceber que o Budo busca e protege a própria razão da existência. A valorização pelos mestres como Yagiu Munenori, entre tantos outros, de valores espirituais é senão um reflexo da sabedoria resultante de suas vivências. Podemos observar essa mesma tendência entre os guerreiros das várias tribos indígenas e aborígenes de nosso planeta. Hatsumi Sensei nos fala que uma premissa fundamental do Ninpo é que algumas coisas devem ser guardadas. Sendo assim, aqueles que buscam nas artes marciais tornarem-se fortes e receber honras e reconhecimento, de certo encontrarão a ruína. O caminho do Budo é um de serviço a ideais muito maiores que o próprio Budoca. Como já dizia Takamatsu sensei: presa ao rabo de um cavalo, até uma pulga pode ir muito longe.

Uma palavra merece ser dita a respeito da integridade nas artes marciais, e acredito que seja algo que se aplique a todos os ramos do conhecimento humano, isto é, a ganância corrompe tudo que toca. Toda atividade humana requer recursos para manter sua estrutura. Não estamos falando contra a cobrança de uma taxa justa para a manutenção de um dojo, mas sim de quando o propósito do dojo deixa de ser a perpetuação da arte e passa a ser o comércio. Toda árvore se sustenta através de sua raiz, se ela apodrece logo as folhas secam e caem. Se o coração não estiver no lugar certo todo o resto é em vão. É assim, logo de cara, que o aprendiz passa por seu primeiro teste, a escolha de um professor. Além da questão financeira, o Budo é algo tão fino, que o budoca não pode permitir que seus sentimentos pessoais fiquem no caminho. Transmitir o sentimento correto da arte é obrigação de todo professor, mas algo que nem sempre ocorre. As artes marciais japonesas antigas seguem o sistema Iemoto, ou seja, para cada geração há uma pessoa que representa a tradição, ainda hoje, para as nove ryu-há da Bujinkan, essa pessoa é Soke Masaaki Hatsumi. Cabe a todo aprendiz diligente buscar na fonte a direção correta.

O tempo é um grande professor, mas também pode ser um terrível adversário. Diz-se que para se formar um artista marcial completo, leva-se uns 40 anos. Persevera num caminho por 40 anos é um feito para poucos. O maior desafio talvez seja não permitir a inércia, ser capaz de encarar tudo como novo, romper constantemente com a forma de ver a fazer as coisas, dar espaço para a vida, sempre criativa e inusitada. Muitos Budocas cristalizaram-se, encontram-se pendurados no tempo, no lodo da própria inércia. Não enxergam mais o encanto que um dia encontravam em praticar sua arte. Isso tudo por que se esqueceram da canção marcial que diz: o caminho do bushi (guerreiro) se encontra na morte. Como dizia Cristo, para adentrar no Reino dos Céus é preciso nascer de novo. Para se realizar Kami Waza (Técnicas Divinas) é preciso constantemente morrer para o conhecido e nascer para o desconhecido. Só assim podemos deixar as vicissitudes da vida nos passar como fumaça, mantendo nossa honra e a integridade de nosso espírito. Certa vez disse um mestre da tradição: busco por um guerreiro que tenha o coração de uma criança de 3 anos, mesmo ele tendo alcançado os 90. Eu diria, busquemos todos a esse sentimento em nossa caminhada. Mesmo não o alcançando estaremos muito mais próximos do que aqueles que nunca tentaram.

English Translation

"When we don´t glorify men of value we prevent rivalry amongst people. When we dont´t value dificult to atain objects we are preventing them from being stolen. Eliminating what might provoke desire men remain without mental disturbances."
- Lao Tse


The ideal practice of martial arts depends on three fundamental things: the right motivation, a just teacher and perseverance. In the absensce of a just teacher one must follow the path of solitary training. As popular saying goes: better off alone than in bad company. In the begining, the martial arts emerged from the need of humans to survive. We can say that human beings are by nature survivors, this being their destiny since their strugle towards fertilization. Today there are martial sports where the motivation is not survival but fame and fortune. We can see in this a refletion of the current values of the societies where these martial sports are proliferated. In ancient times, in constantly dancing on the line that separates life from death, the warriors who gave birth to these martial systems came to a profound understanding of human nature. The development of this knowlege should in fact be the main motivation for a budoca. A question that would justify this afirmation would be: why survive, better yet, why live? Who knows, we might then guide our vision beyond the apparent, and percieve that Budo seeks and protects the very reason of existence. The value given by masters such as Yagiu Munenori, amongst so many others, of spiritual values is but a refletion of the resulting wisdom of their experiences. We can observe this same inclination amongst warriors of the various indigenous tribes and aborigines of our planet. Hatsumi Sensei speaks to us that a fundamental premise in Ninpo is that some things should be protected. This being so, those that seek in the martial arts to become strong and gain honors and reconition, for certain will find ruin. The path of Budo is one of service to ideals far greater than the Budoca himself. As Takamatsu sensei said: attached to a horse´s tail even a flee can travel a long way.

A word deserves to be said in regards to integrity in the martial arts, and I believe this is something that applies to all branches of human knowlege, that is: greed corupts all it touches. All human activity requires resources to maintain it´s structure. We are not speaking against the charging of a just fee for the maintenance of a dojo, but of when the purpose of the dojo stops being the perpetuation of the art and becomes comerce. Every tree sustains itself from it´s roots, if they rot soon the leaves will whither and fall. If the heart isn´t in the right place all the rest is in vain. It is so, from the get go, that the aprentice passes thru his first test, the chosing of a teacher. Beyond finantial matters, Budo is something so fine that the budoca can´t allow his own personal feelings to stand in the way. To transmit the correct feeling of the art is an obligation of every teacher, but something that doesn´t always happen. The old japanese martial art follow the Iemoto system, that is, for every generation there is a sole person that represents the tradition, still today, for the 9 ryu-ha of the Bujinkan, that person is Soke Hatsumi. It befits every aprentice to search in the source the proper direction.

Time is a great teacher, but can also be a terrible adverssary. It is said that to form a complete martial artist it takes 40 years. To persevere in a path for 40 years is a deed for few. The greatest chalenge perhaps is not to allow inercia, to be able to see everything as new, to break constantly with the form of seeing and doing things, to give life space, always creative and unexpected. Many Budoca crystalize, they find themselves hanging in time, in the slime of their own inertia. They no longer see the enchantment that they once found in practicing their art. All of this is because they forgot the martial song that says: the way of the bushi is found in death. As Christ would say, to enter the Kingdom of Heaven one must be born again. To do Kami Waza (Devine Techniques) it is necessary to die constantly to the known and be re-born in the unknown. Only so can we allow the vicissitudes of life pass us by like smoke, keeping our honor and the integrity of our spirit. Once a master of the tradition said: I seek for a warrior that has the heart of a three year old, even having reached his 90s. I would say, let us all seek this feeling in our journey. Even if we never reach it fully we will be much closer that those who never tried.

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