segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Uma Vida no Dia (A Life in the Day)
Este é uma breve entrevista com Soke Hatsumi que revela detalhes fundamentais de como viver a vida de acordo com os princípios do Ninpo.
Uma Vida no Dia: Masaaki Hatsumi
Grande Mestre da Escola Togakure de Ninja
Por Julian Ryall
Do ‘Sunday Times Magazine’ em 21 de Dezembro, 2003
Eu me levanto ao me acordar, mesmo que eu não seja muito de acordar cedo, sendo que tendo a trabalhar pela noite. Eu não sei que horas irei pra cama ou acordar em dia algum porque, como um ninja, eu faço um hábito de não ter nenhum tipo de rotina. É ruim ter um padrão para sua vida, pois as três ocasiões mais fáceis de matar um homem são quando ele estiver na privada, quando estiver na cama ou quando estiver comendo. Ninguém me pegará sonolento, visto que treinei minha vida inteira para estar alerta. Abaixar a sua guarda é equivalente à suicídio. Mas eu sempre começo o dia com a mesma refeição, misturando arroz integral, tofu, feijões vermelhos e cogumelos juntos. Eu também tomo um chá japonês, preparado especialmente para mim. Após o desjejum eu faço seja lá o que quero fazer – mas não o que fiz ontem. Talvez eu escreva para uma revista ou trabalhe em exercícios que faço atualmente.
Eu venho praticando artes marciais desde que sou um garoto, mesmo que seja muito mais profundo que o tipo de treinamento físico que a maioria das pessoas compreende. É o jeito que você vive a sua vida. Eu não faço flexões agora que tenho 73 anos de idade. Não é sobre técnica, é sobre viver. Qualquer um pode tirar fotografias, mas apenas poucas podem ser descritas como “arte”. E da mesma forma que o mundo precisa de escultores e artistas, artistas marciais são igualmente importantes.
Eu nunca “me tornei” um ninja. Eu sempre o fui e ele sempre fui eu. Eu tive uma infância difícil: meu pai costumava beber e era violento, então tinha que proteger minha família. Eu cresci no Japão pós-guerra, quando era proibido praticar qualquer arte marcial além de judô, karate ou kendo.
Tornei-me um instrutor e na década de 60 eu comecei a ensinar em bases militares americanas. Eu rapidamente aprendi que aquelas disciplinas não funcionavam muito bem se seu oponente fosse muito maior e mais forte que você, então eu comecei a estudar artes marciais antigas e me tornei estudante de Toshitsugo Takamatsu, o 33° grande mestre da escola Togakure de ninjas. Quando ele morreu em 1972, eu me tornei o grande mestre.
Eu ensino três vezes por semana quando estou no Japão, e sou freqüentemente convidado a instruir ou dar palestras no exterior. Eu ensinei em 50 países e tenho cartas de agradecimento de cinco presidentes americanos, Margarete Thatcher e Nelson Mandela. Eu compartilhei minhas habilidades com a SAS e a SBS, bem como a polícia e forças especiais ao redor do mundo. Algumas pessoas na minha escola se recusariam a lhe dizer seus trabalhos se você perguntasse. Um deles acaba de retornar de seis meses de excursões do Afeganistão e Iraque.
Treinamos no uso de armas: corda, espadas, lanças, correntes – tudo é uma arma. Um pedaço de papel. Qualquer coisa que for nada. Eu sou um arsenal ambulante – mas ser um ninja é mais que apenas o físico. É ensinar percepção, o espiritual. Você tem que desenvolver um sentimento de matar real, mas com a habilidade de não matar. Você tem que ter vísceras para matar, mas também a habilidade física e espiritual e força para não matar, para dar a seu oponente uma saída, uma desculpa para retroceder. Na verdade, eu não ensino nada a eles. Eu mostro a eles como levarem suas vidas. É por conta deles se o compreendem ou não.
O que é um ninja? O que o tempo? Você está me perguntando para definir algo que por sua própria natureza não é compreendido. O ninjutsu é fundamentado no ato de enganar, mas é muito mais que isso. É o uso de armas e a arte de se esconder, mas há muito mais a ele que lançar estrelas, e invisibilidade.
Um teste para estudantes de nível avançado é eu baixar uma espada na suas nucas e eles têm que sentir o momento de rolar para fora do caminho. Eu tento levá-los ao nível onde eles agem sem saber por que, para transcenderem a compreensão.
Existem muitos mal entendidos em torno do ninja. A maioria começaram no século 14, e foram colocados na mesma categoria que os samurais, os cavaleiros da Idade Média. Um samurai estava disposto a morrer por seu senhor. Mas os ninjas foram sempre independentes dos governos, e tínhamos uma filosofia que tínhamos que viver por conta de nossas famílias. Acreditamos levar uma existência abençoada, mas no que diz respeito a nossas habilidades, nunca faz mal ter uma má reputação. É parte do nosso poder, parte de nosso misticismo.
No final do dia, eu abro a geladeira e pego qualquer comida que estiver disponível. Talvez eu tome um drinque, mas não sou muito de beber cerveja ou sake. Às vezes convidamos alguns de meus alunos para o jantar, mas eu só aviso em cima da hora. Eu provavelmente levarei os cães para passear novamente, mas quem sabe se será as 5pm ou as 5am? Eu tento escreve um tanto a noite, eu sou um bom dançarino, ou assim dizem. Eu gosto de dança tradicional japonesa bem como dança de salão, visto que sou bem leve nos meus pés.
Quando sinto que está na hora de ir pra cama, eu desenrolo meu colchão e durmo rapidamente, mas eu freqüentemente sonho com meu mestre, Takamatsu, e os sonhos são geralmente no lado aterrorizante, como ele me atacando em meus sonhos. No primeiro dia que me tornei seu aprendiz, eu dormi em sua casa. Pela manhã ele me perguntou quantas vezes ele havia entrado no meu quarto durante a noite e quantas vezes eu achava que ele poderia ter me matado. Nos próximos cinco anos eu não tive uma noite boa de sono, sendo que estava alerta para o menor ruído. No final tive que perguntar. Ele disse que não tinha entrado nenhuma vez, mas que eu aprendera uma boa lição.
(English Translation)
This is a brief Enterview with Soke Hatsumi that reveals fundamental details of how to live acording to the principles of Ninpo.
A Life in the Day: Masaaki Hatsumi,
Grandmaster of the Togakure School of Ninja
by Julian Ryall
From the 'Sunday Times Magazine' on December 21st, 2003
I get up when I wake up, although I'm not much of an early riser, as I tend to work through the night. I don't know what time I'll go to bed or wake up on any day because, as a ninja, I make a habit of never having any sort of routine. It's bad to have a pattern to your life, because the three easiest times to kill a man are when he's on the toilet, when he's in bed or when he's eating. Nobody will catch me asleep or drowsy, as I have trained all my life to be alert. To let your guard down is tantamount to suicide. But I always start the day with the same meal, mixing brown rice, tofu, red beans and mushrooms together. I'll also have a Japanese tea, blended specially for me. After breakfast I will do whatever I want to — but not what I did yesterday. Perhaps I will write for a magazine or work on exercise I do now.
I've been doing martial arts since I was a boy, although it is much deeper than the sort of physical training most people would understand. It's the way you live your life. I don't do push-ups now that I'm 73 — though I don't have the body of a 73-year-old. It's not about technique, it's about living. Anyone can take photographs, but only a few can be described as "art". And just as the world needs sculptors and artists, martial arts are equally important.
I never "became" a ninja. I was always it and it was always me. I had a tough childhood: my father used to drink and was violent, so I had to protect my family. I grew up in post-war Japan, when it was forbidden to practice any martial art other than judo, karate or kendo.
I became an instructor and in the 1960s I began teaching at US military bases. I quickly learnt that those disciplines don't work very well if your opponent is much bigger and stronger than you, so I began to study the ancient martial arts and became a student of Toshitsugu Takamatsu, the 33rd grand master of the Togakure school of ninja. When he died in 1972, I became the grand master.
I teach three times a week when I am in Japan, and I'm often invited to instruct or give lectures abroad. I've taught in 50 countries and have letters of thanks from five US presidents, Margaret Thatcher and Nelson Mandela. I have shared my skills with the SAS and SBS, as well as police and special forces around the world. Some people at my school will refuse to tell you their jobs if you ask them. One has just returned from six-month tours of Afghanistan and Iraq.
We train in the use of weapons: rope, swords, spears, chains — everything is a weapon. A piece of paper. Anything that is nothing. I'm a walking arsenal — but being a ninja is more than just the physical. It's teaching awareness, the spiritual. You have to develop a real killing feeling, but with the ability not to kill. You have to have guts to kill, but also the physical and spiritual ability and strength not to kill, to give your opponent an out, an excuse to back off. In truth, I don't teach them anything. I show them how to lead their lives. It's up to them whether they grasp it or not.
What is a ninja? What is time? You are asking me to define something that by its very nature is not understood. Ninjutsu is based on deception, but it's a lot more than that. It's the use of weapons and the art of concealment, but there's a great deal more to it than throwing stars, and stealth.
One test for the higher-level students is for me to bring a sword down on the backs of their necks and they have to sense when to roll out of the way. I try to take them to the level when they act without knowing why, to transcend understanding.
There are many misconceptions surrounding ninja. Most started in the 14th century, and we were put in the same category as samurai, the salarymen of the Middle Ages. A samurai was willing to die for his lord. But ninja were always independent of the government, and we had a philosophy that we had to live for the sake of our families. We believe we lead a blessed existence, but when it comes to our skills, it never hurts to have a bad reputation. It's part of our power, part of our mysticism.
At the end of the day, I'll open the fridge and grab whatever food is handy. Maybe I'll have a drink, but I'm not a big beer or sake drinker. Sometimes we have some of my students round for dinner, but I only give them short notice. I'll probably take the dogs for a walk again, but who knows if it will be at 5pm or 5am? I try to do some writing in the evenings, and I'm quite an accomplished dancer, or so they say. I like traditional Japanese dancing as well as ballroom dancing, as I'm pretty light on my feet.
When I feel it is time to go to bed, I will roll out my futon and go to sleep quickly, but I often dream of my master, Takamatsu, and the dreams are usually on the scary side, like he's attacking me in my sleep. On the first day I became his apprentice, I slept in his house. In the morning he asked me how many times he'd come into my room in the night and how many times I thought he could have killed me. For the next five years I never had a good night's sleep, as I was waiting for the slightest noise. In the end I had to ask him. He said he hadn't come in at all, but that I'd learnt a good lesson.
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