quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Jin no Budo (O Caminho de Guerra do Homen) (The War Path of Man)
Jin no Budo (O Caminho de Guerra do Homem)
Devido a alguns questionamentos que vem sendo propostos na internet sobre a autenticidade dos ensinamentos transmitidos a nós por Hatsumi Sensei, ensinamentos cujo ele recebeu de Takamatsu Sensei, me entreguei à reflexão. Gostaria de compartilhar com meus Buyus um pouco dessa reflexão, e chamar atenção para pontos essenciais que todo praticante deveria considerar.
Não vou ocupar espaço com os questionamentos, acredito que todos que usam a internet e praticam nossa arte estão interados do seu contexto. Primeiramente, gostaria de chamar atenção para um fato, que é respaldado pelo contexto histórico e que se apresenta constantemente na narrativa de Hatsumi Sensei sobre o Ninpo – que o Ninpo surgiu, antes de qualquer coisa, como uma filosofia e uma prática espiritual. Sob a influência dos conhecimentos Budistas, Taoistas e Xintoístas os Yamabushis desenvolveram uma cultura própria baseada em princípios que consideravam sagrados, mas estas influencias não se limitavam ao espiritual, e pela própria necessidade de sobrevivência, a luz da perseguição que sofriam, e pelo contato com toda sorte de Ronin e outros guerreiros de terras estrangeiras, se desenvolveu um sistema marcial de sobrevivência. Vale mencionar que a influência marcante do Mykkio (Budismo Tântrico), e sua devoção a Fudo Myo (O Rei da Luz Inabalável), deus padrinho das artes marciais, permitiu que não houvesse contradição entre a espiritualidade e a marcialidade, mas isto é assunto para todo um trabalho a parte.
As considerações acima são importantes para contextualizar a idéia de que se há um sistema de marcialidade ele deve existir com o propósito de proteger algo. Alguns praticantes se empenham nos aspectos técnicos do Taijutsu e se tornam ótimos lutadores, mas perdem o sentido da arte ao ignorarem aquilo pelo qual o Taijutsu foi desenvolvido para nutrir e proteger. A situação se torna mais complicada num sistema que não ver separação entre mente, corpo e espírito. Portanto, sem compreensão das sutilezas espirituais nem mesmo a pratica técnica pode ser desenvolvida corretamente. Isto é, considerando que o bom Taijutsu implica em não lutar, enquanto o oponente luta sozinho. É de fato uma técnica de evasão. Neste contexto, temos o que poderíamos chamar dos praticantes Chi (Terra).
Do outro lado da moeda temos os entusiasmados com espiritualidade. Praticantes que buscam um caminho de espiritualidade e se deleitam em ver exibições do Sakkit Test e praticam (ou imitam o que podem do) Kuji e toda sorte de meditação e prática exótica associada ao Ninpo. Estes praticantes fariam melhor em se juntarem a um mosteiro e se dedicarem a alguma religião. Considerando o fato que ignoram a realidade de um combate físico real e mesmo diante de técnicas obviamente mortais, que empregam espadas, lanças, armas de fogo e explosivos, jamais se colocam na posição de testar se a movimentação que eles vêm praticando, em câmera lenta e contra resistência zero, funcionaria contra um ataque real. Estes poderiam ser chamados de praticantes Ten (Céu).
Dessa forma temos pessoas que enxergam o mundo pelo prisma dos sentidos e outras pelo prisma do simbólico, temos o cientista e o sacerdote, mas dos dois, quem é o Ninja? Poderia ser ele o Homem (Jin), aquele que persevera meio as realidades de Ten e Chi? Poderíamos dizer que o Ninpo (método da perseverança) é um caminho de crescer em percepção e compreensão dessas duas dimensões enquanto sobrevivemos às forças titânicas que nos afrontam por dentro e por fora? E poderíamos dizer que a chave para isso não é nem símbolo nem razão, mas sim intuição em ação, conhecimento instintivo súbito diretamente associado a ação. Corpo, mente e espírito unidos (Shi Gi Tai). E se a resposta for sim para estas perguntas e temos no engano uma chave central para sobrevivência não é correto que um Ninja utilize desta chave para zelar pelas jóias espirituais e técnicas que ele conquistou ao longo de sua caminhada? Numa tradição onde Kuden (Transmissão Oral) é chave inclusive para decifrar os pergaminhos não é tolice discutir se os documentos são autênticos ou não? Será que nos tornaremos seres mais conscientes por conta de verificação antropológica? Nossa habilidade de se defender aumentará porque algum intelectual autentica este ou aquele documento? Peguemos estes argumentos e contemplemos o porque do descaso com o qual Soke aprova graduações de pessoas obviamente longe da suposta habilidade.
Acredito que a verdadeira sinceridade contenha a solução para toda controvérsia. Esta sinceridade a qual me refiro é a sinceridade consigo mesmo. No fundo todo mundo sabe onde está o desequilíbrio, muitos simplesmente não querem se dar o esforço de trabalhar aquilo que não vem com facilidade. Mas independente das inclinações pessoais, Soke vem apontando para a direção correta, resta cada um seguir por esforço próprio. Todos aqueles que já deram alguns passos de certo se divertem com tantos questionamentos, e logo então se entristecem por não contarem com estas pessoas para compartilhar o indescritível prazer de viver resultante desta caminhada.
(English Translation)
Due to some questioning that is being undertaken on the internet about the authenticity of the teachings transmitted to us by Hatsumi Sensei, teachings which he received from Takamatsu Sensei, I gave myself to reflection. I would like to share with my Buyu a little bit of this reflection, and call attention to essential points every practitioner should consider.
I´m not going to use up space with the specifics being questioned, I believe everyone who uses the internet and practices our art are up on the subject.
First of all, I would like to draw attention to a fact, that is backed up by historical evidence and that presents itself constantly in the narrative of Hatsumi Sensei about Ninpo – that Ninpo emerged, before anything else, as a philosophy and a spiritual practice. Under the influence of Buddhist, Taoist and Xinto knowledge the Yamabushi developed a culture all their own based on principles they considered sacred. But these influences did not limit themselves to the spiritual, and by the very need for survival, in light of the persecution they suffered, and by contact with all sorts of Ronin and other warriors from foreign lands, they developed a martial system for survival. It´s worth mentioning the prominent influence of Mykkio (Tantric Buddhism), and their devotion to Fudo Myo (The Unshakable King of Light), patron god of the martial arts, that allowed for there not being any contradiction between spirituality and the martial aspect, but this is subject for a whole other work apart.
The above considerations are important to contextualize the idea that if there is a martial system it should exist with the purpose of protecting something. Some practitioners dedicate themselves to the technical aspects of Taijutsu and become great fighters, but they lose the meaning of the art in ignoring that which the Taijutsu was developed to nurture and protect. The situation becomes more complicated with a system that does not see any separation between mind, body and spirit. Therefore, without understanding of the spiritual subtleties, not even the technical practice can be developed correctly. That is, considering that good Taijutsu implies in not fighting, while the opponent fights by himself. It is indeed a technique of evasion. In this context, we have what we could call the Chi (Earth) practitioners.
On the other side of the coin we have the spiritual enthusiasts. Practitioner that search for a spiritual path and find pleasure in seeing exhibitions of the Sakkit Test and practice (or imitate what they can of) Kuji and all sorts of meditation and exotic practices associated with Ninpo. These practitioners would do best in joining a monastery and dedicating themselves to some religion. Considering the fact that they ignore the reality of a real physical combat and even in the presence of obviously deadly techniques that uses swords, spears, guns and explosives, they never put themselves in a position to test if the movement they have been practicing, in slow motion and against zero resistance, works against a real attack. These practitioners could be coined as Ten (Heaven) practitioners.
In such a manner we have people who see the world by the prism of the senses and others by the prism of the symbolic, we have the scientist and the priest, but of the two, who is the Ninja? Could he be the Man (Jin), one that perseveres amidst the realities of Ten and Chi? Could we say that Ninpo (method of perseverance) is a path of growing in perception and understanding of these two dimensions while surviving the titanic forces that confront us from within and from without? And could we say that the key to this is neither symbol nor reason, but rather intuition in action, sudden instinctive knowledge directly related to action. Body, mind and spirit united (Shin Gi Tai)? And if the answer is yes to these questions and we have in deception a central key to survival isn´t it correct for a Ninja to utilize this key to care for the spiritual and technical jewels that he has conquered along his journey? In a tradition where Kuden (Oral Transmission) is key even to deciphering the scrolls isn´t it silly to discuss if the documents are authentic or not? Is it possible that we will become more enlightened beings by means of anthropological verification? Will our ability to defend ourselves be heightened because some intellectual authenticates this or that document? Let´s take these arguments and contemplate the reason why for the carelessness with which Soke approves the promotion of people obviously far from the supposed level of ability.
I believe that true sincerity contains the solution for all controversy. This sincerity to which I refer is sincerity with our very self. Deep down everyone knows where their unbalance is, many just don´t want to put in the effort to work out that which doesn´t come as easily. But regardless of personal inclinations, Soke is constantly pointing towards the right direction, it´s up to each one to follow by merit of their own effort. All of those who have taken a few steps already surely smile at so much questioning, and then suddenly become saddened because they will not have the company of these people to share the indescribable pleasure of being alive that results from traveling on this path.
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