Páginas

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Mundo da Loucura (The World of Crazyness)


As pessoas que estão estudando as artes marciais estão aptas a pensarem que são humanos por direito; que possuem uma filosofia correta e que estão agindo e se comportando corretamente. Mas o que as outras pessoas acham?
Certo dia eu estava assistindo um programa de entrevistas com um novelista de artes marciais na TV. O novelista, que não parecia realmente saber nada sobre as artes marciais, parecia tão fraco, mas falava como se tivesse sido um grande espadachim. Esses novelistas modernos se tornam grandes espadachins rápido demais. Não sei se ele tem um problema ou se o problema é com a mídia em massa.
Novelistas que não estão estudando ou treinando as artes marciais não podem falar sobre os caminhos marciais ou dos movimentos das artes marciais. Mas alguns deles ainda interrompem os profissionais que estão estudando ou treinando as artes marciais. Eu denomino estes novelistas de megalomaníacos. Eu me pergunto por que a imprensa permite que estes críticos amadores sejam sensei de certas artes. Este é um mundo enlouquecido.
Ouvi dizer que escritores, pesquisadores, dublês, e artistas marciais disputaram sobre as cenas de mutodori no seriado de TV da N.H.K. “Haru no Saka Michi”. Para mim você precisa ariscar a própria vida a fim de realizar mutodori contra uma espada de verdade. Há um poema que descreve a vontade e o coração de muto:

O inferno jaz sob a espada que está armada,
simplesmente adentre, e haverá o paraíso.

Quando você enfrenta a espada você precisa de vísceras (coragem). A pessoa que não consegue coragem verdadeira geralmente arranja coragem falsa, (loucura) ao usar álcool ou drogas. Certa vez conversei com um artista marcial: “Hatsumi-san, eu conheci muitos senseis, mas muitos artistas marciais são nervosos.” “Você quer dizer mania de perseguição ou ser sensível a vencer ou perder?” “Sim.” “Quando vejo meu professor, Takamatsu Sensei, posso ver que a alergia marcial, pensar demais, será fraca se você treinar o suficiente. Ele diz que é caduquice, mas ele está muito bem e muito forte.”
Há momentos em que um artista marcial pode ficar louco, tipo megalomania, complexo de inferioridade, mania de perseguição, e sensível demais (chusatsu moso), que o leva a pensar que alguém estar tentando o atacar. Por exemplo, se você se torna um megalomaníaco, você pensa que é forte, um herói. O complexo de inferioridade, que você pode adquirir caso viva perdendo, pode lhe levar a pensar que você não presta, ou que você não tem o talento para ser um artista marcial. Mania de perseguição faz você pensar que seu opoente aparenta ser mais forte. Chusatsu moso faz você pensar que alguém está tentando lhe atacar por você ter muitos pontos fracos. Essa é uma doença mental que todos terão se estão no processo de treinar. Apenas um indivíduo que se encontra no “Mundo da Loucura” e consegue sair pode se tornar um mestre.
É dito que os santos espadachins aprenderam zen há muito tempo atrás. Mas houve uma era negra do Zen na história do Japão. O sacerdote Ikkyu viveu durante esse período e com o espírito da rejeição se autodenominou “Fukyo” (louco). Você pode interpretar loucura e coragem como a mesma coisa. Certo dia, o Shogun Ashikaga visitou Ikkyu para reformar os maus costumes. Os outros sacerdotes começaram a estremecer e se preocupar por conta da presença do Shogun, mas Ikkyu tirou seu chapéu e ficou de pé num local mais elevado que o Shogun, e estava prestes a lhe dar seu chapéu. Um dos seguidores do Shogun ficou furioso e empunhou sua espada, pronto para sacar quando pensou que seria melhor ele não derramar sangue diante do altar Budista. Contrariamente, ele ergueu sua mão para receber o chapéu pelo Shogun. Ikkyu então disse: “Eu não posso dar esse chapéu para um seguidor como você. Eu o darei somente ao Shogun diretamente.” Esse é um exemplo de coragem com humor.
Há muitas formas de Kyo (loucura). A forma dupla: mudanças de técnica ou arte marcial para achar um bom professor. A forma depressiva: uma pessoa que sorrir (é gratificado) após atacar alguém. A forma do engano: uma pessoa que ataca o território do inimigo sozinho. A forma alcoólatra: uma pessoa que não consegue empunhar a espada sem álcool. Qualquer um que se torna louco da loucura e então retorna de volta a um estado normal se tornará um verdadeiro perito. Eu digo a meus alunos para conseguirem fazer concentração mental, se tornarem como esquizofrênicos ou dupla personalidades, do contrário não detectaram a existência de oponentes em cada direção.
Há uma tendência entre artistas marciais modernos de não treinarem sozinhos. Eu costumava treinar sozinho. Quando meu professor não estava lá encontrei o segredo por mim mesmo. Eu ficava nas montanhas e treinei com as árvores, animais selvagens e com a natureza. Treinei usando taihenjutsu contra as árvores. Quando treinei contra animais selvagens, li suas mentes primeiro e depois socava e os chutava. Eu pratiquei técnicas de projeção contra um grande touro. Eu treinei contra as mudanças da natureza, e aprendi a predizê-las e tirar vantagem das mudanças.
Mas é melhor está com seu professor. Mas se seu professor não presta, você aprende apenas a forma, e você acaba com artes marciais de fantoche. Por sinal, o livro chamado Uma Regra Laissez-faire, um best-seller, deve ser bem vindo porque esta regra pode lhe conceder grande criatividade. Se eu tenho um aprendiz que não aprende, mas aprecia as artes marciais, eu o deixo em paz. Eu não digo nada e nem sequer treino ele. Mas se ele ainda gosta das artes marciais, ele treina por si só e começa a aprender algo. Se você lhe ensinar demais, às vezes não funciona. Oh Yomei previu que as pessoas estava indo a ele por meio de Do In Jutsu, técnica de guiar , conduzir, mas ele achou que ensinar isso as pessoas não lhes faria bem, e ele parou de ensinar. Se você fizer demais, não é bom. É o mesmo para as artes marciais. Eu não ensino técnicas muito avançadas a não ser para alunos avançados. O segredo não é o número de técnicas.
Uma regra laissez-faire é um método nascido da realização do “nada”. A sociedade moderna, que busca apenas o método que é nascido do “alguma coisa”, cria pessoas inúteis. Às vezes eu digo para meus alunos que ainda estão no ginásio: “Eu não gosto da forma como vocês estudam porque não possuem uma meta. Eu lhe s ensinarei. Primeiramente, se enamorem do Ninpo. Enamorar-se dará vida a tudo. Se você se enamorar, você pode treinar sozinho. A partir de então, você começa a estudar tudo.” Muitos estrangeiros vem me ver, então eu naturalmente comecei a estudar línguas estrangeiras. História das artes marciais, pensamentos, religião, filosofia, línguas estrangeiras, psicologia, química, física, etc. Você começa estudando por si. Então não é importante se você é bom ou ruim em algo, como no budo, ou em quantas técnicas que você foi ensinado ou sabe, mas é mais valoroso aprender a verdade do jogo treinando só. “A vida é treinar só.” Esse axioma eu digo para mim mesmo e a meus alunos. É claro que o mais importante é ter atenção. Atenção lhe permite ter uma maneira de treinar a fim de não se meter em encrencas.
- O Mundo da Loucura
Traduzido do Hiden no Togakure Ryu Ninpo por Dr. Masaaki Hatsumi

(English Translation)

People who are studying martial arts are apt to think that they are rightly human; that they have a right philosophy and that they are acting and behaving correctly. But what do other people think?
One day I was watching a talk show with a martial art novelist on TV. The novelist, who didn't look like he really knew about the martial arts, looked so weak, but was talking as if he had been a great sword man. These modern day novelists become great swordsmen all too quickly. I don't know if they have a problem, or if the problem is with the mass media.
Novelists who are not studying or training in the martial arts can't talk about the way of the martial arts or movements of the martial arts. But some of them even interrupt the professionals who are studying or training in the martial arts. I call these kinds of novelists megalomaniacs. I wonder why the mass media lets these amateur critics be sensei of certain arts. This is a crazy world.
I have heard that the writers, researchers, stunt men, and martial artists disputed over the mutodori scenes in the N.H.K. TV series "Haru no Saka Michi". To me, you have to risk your life to do muto dori against a real sword. There is a poem which describes the will and heart of muto:

Hell lies under the sword which is brandished,
just step in, and there will be heaven.

When you face the sword, you need guts. The person who can't get true guts normally gets fake guts, (craziness) by using liquor or drugs. I once had a talk with one martial artist: "Hatsumi-san, I have met many sensei, but a lot of martial artists are nervous." "You mean persecution mania or being sensitive to winning or losing?" "Yes." "When I see my teacher, Takamatsu Sensei, I can tell that the martial art allergy, thinking too much, will be dull if you train enough. He says it is senility, but he is quite well and very strong."
There are times when a martial artist can become crazy, such as megalomania, inferiority complex, persecution mania, and too sensitive (chusatsu moso), which makes you think somebody is trying to attack you. For example, if you become a megalomaniac, you think you are strong, a hero. Inferiority complex, which you could get if you keep losing, can make you think you are not good at all, or that you don't have the talent to be a martial artist. Persecution mania makes you think that your opponent looks stronger. Chusatsu moso makes you think that somebody is trying to attack you because you have a lot of weak points. This is one of the mental diseases which everyone will have if they are in the process of training. Only an individual who is in the "World of Craziness" and can get out can become a master.
It is said that the sword saint learned zen a long time ago. But there was a dark period of Zen in the history of Japan. The priest Ikkyu lived during that period with the spirit of rejection called himself "Fukyo" (crazy). You can interpret craziness and courage as the same thing. One day, Shogun Ashikaga visited Ikkyu to reform the bad customs. Other priests started to shake and worry because of the presence of the Shogun, but Ikkyu took off his hat and stood up on a place higher than the Shogun, and was about to give his hat to him. One of the Shogun's followers was very upset and put his hand on the handle of his sword, ready to draw when he thought he better not cause bloodshed before the Buddhist altar. Instead he reached out his hand to receive the hat for the Shogun. Ikkyu then said: "I can't give this hat to a follower like you. I will only give it directly to the Shogun." This is an example of courage with humor.
There are many forms of the Kyo (craziness). The form of split: changes of techniques or martial art to find a good teacher. The form of depressive: a person who smiles (gets gratification) after attacking someone. The form of diversion: the person who attacks the opponent's territory by himself. The form of alcoholic: a person who can't hold the sword without liquor, etc. Anyone who becomes crazy of the craziness and then returns back to the normal state will become a true expert. I tell my students that if they can do mental concentration, become a kind of schizophrenic or split personality, or they can't detect the existence of the opponents in every direction.
There is an tendency for modern martial artists not to do training by themselves. I used to train by myself. When my teacher was not there, I found out the secret by myself. I stayed in the mountains and trained with trees, wild animals, and nature. I trained using taihenjutsu against trees. When I trained against wild animals, I read their minds first and then punched or kicked them. I practiced throwing techniques against a big bull. I trained against the changes of nature, and learned to foresee them and take advantage of the changes.
But it’s better being with your teacher. But if your teacher is not good, you learn only the shape, and you end up with puppet martial arts. By the way, the book called A LAISSEZ-FAIRE POLICY, a bestseller, should be welcomed because this policy can give you great creativity. If I have a student who doesn't learn, but enjoys the martial arts, I leave him alone. I don't say anything and I don't even train him. But if he still likes martial arts, he trains by himself and starts to learn something. If you teach him too much, it sometimes doesn't work. Oh Yomei foreknew that people were coming to him by Do In Jutsu, technique of leading, conducting, but he thought that teaching this to people didn't do any good for them, and he stopped teaching. If you do too much, it’s no good. It is the same for the martial arts. I don't teach real advanced techniques unless they are to advanced students. The secret is not the number of techniques.
A laissez-faire policy is the method which was born from the realization of "nothing". Modern society, which seeks only the method which is born from "something", makes useless people. Sometimes I tell my students who are still in high school: "I don't like the way you study because you don't have a goal. I will teach you. First, fall in love with Ninpo. Falling in love will give birth to everything. If you fall in love, you can train by yourself. From there, you start studying everything." A lot of foreigners come to me, so I naturally started studying foreign languages. History of martial arts, thoughts, religion, philosophy, foreign language, psychology, chemistry, physics, etc. You start studying by yourself. So it is not important whether you are good or bad at something, as in budo, or how many techniques you were taught or know, but it’s more valuable to learn the truth of the game by self training. "Life is self training." This is the axiom I tell myself and my students. Of course it is most important to have attentiveness. Attentiveness lets you have a manner to train in order not to get into trouble.

- The World of Crazyness
Translated from Hiden no Togakure Ryu Ninpo by Dr. Masaaki Hatsumi

Nenhum comentário:

Postar um comentário