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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Simplicidade vs. Complexidade (Simplicity vs. Complexity)



Como você descreveria a experiência da fragrância de uma rosa? Você faria uma longa descrição das notas aromáticas em termos de amadeirado, adocicado, etc.? Você faria um poema buscando de alguma maneira traduzir o sentimento por associação? Qualquer que fosse sua maneira de descrever essa vivência jamais seria capaz de reproduzir seu poder, que é um reflexo direto de sua simplicidade.

Quando iniciamos nosso treino de Ninpo nos impressionamos com a multidão de técnicas e conceitos associados à prática. Por vezes nos parece impossível aprender a dominar tantas técnicas, principalmente quando pensamos em "técnicas avançadas". Algumas pessoas se empenham nesse aprendizado e nunca percebem que não passa de um truque. Assim fazendo, se vangloriam de quantas técnicas conhecem e de seu profundo conhecimento filosófico. São os que Hatsumi Sensei chama de colecionadores de técnicas.

Não apenas nas artes marciais, mas na vida cotidiana, podemos observar esse fenômeno onde o ser humano torna-se cade vez mais fragmentado e disperso de si mesmo. Nossa compulsão de explicar a realidade pode se tornar em um empreendimento tão presente que nos ausentamos da própria realidade que buscamos descrever.

Todos os mestres do passado fizeram referência a necessidade de sermos como uma criança. Em algum momento do amadurecimento do ser humano ele tende a complexidade racional. Assim fazendo, ele deixa de ser um ser espontâneo, autêntico, com uma sede insaciável para explorar seu mundo, e passa a ser um ser constrito, falso, com infinitas explicações sobre a realidade que o separam dela de uma vez por todas.

Como a fragrância de uma rosa, é a vivência do treinamento das técnicas que deve aflorar o despertar de Shiki (Consciência). Conforme treinamos, a própria percepção nos ensina que as multidões de técnicas são apenas interpretações de poucos princípios, e que mesmo esses poucos princípios não passam de abstrações da perfeição que é a movimentação autêntica e espontânea inerente ao nosso corpo e espírito.

Os mestres que elaboraram as técnicas e a disciplina do treinamento compreendiam perfeitamente que a complexidade do ser humano jamais permitiria a compreensão direta do Gokui (Segredo) da natureza. Criaram então um labirinto onde o aprendiz poderia ou não descobri-lo por si próprio. Caso o fizesse, realizaria o feito máximo de um ser humano - abandonaria a complexidade do mundo das definições e auto-imagem e nasceria para a realidade de quem ele é em sua totalidade.

(English Translation)

How would you describe the experience of the fragrance of a rose? Would you make a long description of the aromatic notes in terms of woodsy, sweet, etc.? Would you write a poem seeking somehow to translate the feeling by association? Whatever be the way of describing this experience you would never be able to reproduce it´s power, which is a reflex of it´s simplicity.

When we start our training in Ninpo we impress ourselves with the multitude of techniques and concepts associated to the practice. At times it seems to us impossible to learn to master so many techniques, especially when we think of “advanced techniques”. Some people make great efforts in this learning and never notice that it is no more than a trick. In so doing, they think highly of themselves and of how many techniques they know and of their deep philosophical knowledge. They are whom Hatsumi Sensei calls the technique colectors.

Not only in the martial arts, but in everyday life, we can observe this fenomenon where the human being becomes ever more fragmented and dispersed from his very self. Our compulsion to explain reality can become such a prevalent endeavor that we become absent from the very reality we seek to describe.

All of the masters from the past made reference to the necessity for us to become like a child. In some instant of the human process of maturing he tends towards rational complexity. In so doing, he ceases to be a spontaneous, authentic being, with an insatiable thirst to explore his world, and becomes a constricted, false being, with infinite definitions of reality that separates him from Her once and for all.

Like the fragrance of a rose, it is the experience of training the techniques that should bloom into the awakening of Shiki (Conscience). As we train, our own perception teaches us that the multitude of techniques are just interpretations of a few principles, and that even those few principles are no more than abstractions of the perfection that is the spontaneous and authentic movement inherent to our body an spirit.

The masters who developed the techniques and the discipline of training understood perfectly that the complexity of human beings would never allow for the direct understanding of the Gokui (Secret) of nature. They therefore created a labyrinth where the apprentice may or may not find it out for himself. If he does, he would have realized the highest doing for a human being – he would abandon the complexity of the world of definitions and self-image and would be born to the reality of who he is in it´s totality.